BRASIL PODE LIDERAR TRANSIÇÃO ENERGÉTICA GLOBAL, APONTA JOHNS HOPKINS UNIVERSITY
- gabrielaluisaconti
- 24 de jun.
- 4 min de leitura

País tem 90% de sua matriz elétrica renovável e vasto potencial em hidrogênio verde e metais críticos, mas precisa de políticas públicas para não perder a chance.
O Brasil está posicionado entre os quatro países com maior potencial para liderar a transição energética e a descarbonização global. É o que revela um estudo aprofundado da renomada Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, que detalha as vantagens competitivas do país em fontes renováveis, na mineração de metais críticos e no promissor setor de hidrogênio verde (H2V). O levantamento divulgado na semana passada na série especial da GloboNews Em Ponto, sublinha a urgência de políticas públicas focadas para que o país capitalize seu diferencial e trilhe uma rota bem-sucedida rumo a uma economia de carbono zero.
A base para esse otimismo é robusta. Cerca de 90% da matriz elétrica brasileira já é renovável, um patamar invejável no cenário mundial. Essa abundância de recursos naturais, como o vento e o sol, coloca o Brasil na vanguarda para o desenvolvimento de inovações tecnológicas cruciais para uma economia descarbonizada.
Gargalos regulatórios
O setor eólico brasileiro é destacado pelo estudo como um dos mais promissores, apesar de ainda enfrentar desafios econômicos e regulatórios. Para manter-se em destaque, o país precisará aprimorar seus processos de implantação de projetos, a fim de evitar impactos socioambientais negativos em comunidades locais.
Pesquisadores da Johns Hopkins University reconhecem um avanço significativo na aprovação do marco regulatório das eólicas offshore. No entanto, o estudo faz um alerta: esse esforço pode ser comprometido pela inserção de "jabutis" legislativos que beneficiam fontes de energia à base de combustíveis fósseis, como gás e carvão.
Renato Gaspi, pesquisador sênior da Johns Hopkins, é enfático: "O Brasil tem um caminho bem claro à sua frente, que é investir em setores que já são importantes agora e serão cada vez mais nos próximos anos. E o país já tem vantagens competitivas claras."
Hidrogênio verde
Um desses setores é a mineração de metais críticos para a transição energética. O estudo aponta que o Brasil possui uma oportunidade ímpar de desenvolver uma "forte posição tecnológica" em toda a cadeia produtiva. Como produtor de lítio, um desses metais estratégicos, o país deveria investir nas demais etapas da cadeia, visando a fabricação de baterias e veículos elétricos, agregando valor em vez de apenas exportar o minério bruto.
Outro pilar para a liderança brasileira é a cadeia produtiva do hidrogênio verde (H2V), visto como um substituto fundamental para os combustíveis fósseis em setores de difícil descarbonização. O Nordeste, com seu vasto potencial eólico e solar, se destaca, com o Ceará na vanguarda. Seis empresas já assinaram memorandos de entendimento com o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no litoral cearense, para a produção de H2V, totalizando investimentos na ordem de R$ 24 bilhões. Inicialmente, a produção deve focar na exportação, sendo a Europa como principal mercado.
Adriana Guerra, pesquisadora da Johns Hopkins, ressalta a interconexão entre as crises: "A crise climática está atrelada às questões econômicas contemporâneas em que um crescimento totalmente pautado em energias não renováveis é inviável. A transição energética é também uma possibilidade para o crescimento econômico global."
Políticas públicas
O estudo do Net Zero Industrial Policy Lab (NZIPL) da Johns Hopkins University corrobora que o Brasil tem a "faca e o queijo" nas mãos para ser um líder mundial rumo a uma economia verde até 2050. A abundância de recursos naturais e uma base industrial consolidada são suas principais vantagens. No entanto, para concretizar essa liderança, o país precisa urgentemente eliminar lacunas em políticas públicas que podem comprometer a trajetória de descarbonização econômica.
Os cientistas do NZIPL aplicaram uma metodologia própria para analisar políticas industriais verdes em diversas nações e avaliaram o panorama tecnológico e político em sete setores críticos para a economia verde global projetada para 2050. O Brasil possui uma posição privilegiada em todos eles; - minerais estratégicos, baterias, veículos elétricos híbridos com biocombustíveis, combustíveis sustentáveis para aviação, produção de equipamentos para energia eólica, aço com baixo carbono e fertilizantes verdes.
Para evitar a dispersão e assegurar a liderança brasileira, os pesquisadores sugerem o "microtargeting", priorizando os sete setores críticos listados. Apesar de ressaltar que iniciativas como a convocação de grupos de trabalho para mapear e fortalecer cadeias de valor deveriam ter sido implementadas antes, o cenário mostra sinais encorajadores de que o governo está se movendo na direção certa.
Sahay, pesquisador da Johns Hopkins, avalia que nem mesmo o respaldo de grandes economias, como os Estados Unidos sob certas políticas, aos combustíveis fósseis, ou a descrença em energias renováveis de outros importantes produtores, irá interromper a transformação global. Ele argumenta que isso "torna a escolha do Brasil até mais direta. É estratégico construir uma posição na economia das décadas de 2030 e 2040 em vez de insistir em ativos encalhados na velha economia."
"O mundo está se movendo rápido e a nova economia verde não é uma utopia colaborativa. Haverá vencedores e perdedores. Com o grande potencial que possui no novo sistema energético, os líderes do Brasil, tanto políticos quanto industriais, têm uma oportunidade única nesta geração para aproveitar", conclui Sahay, reforçando a imensa janela de oportunidade que se abre para o Brasil liderar a revolução da economia verde. (Fontes: GloboNews, Clima Info)
BRASIL PODE LIDERAR TRANSIÇÃO ENERGÉTICA GLOBAL, APONTA JOHNS HOPKINS UNIVERSITY







Comentários